12 de nov. de 2010

'paliar e cuidar'

Desde que comecei a trabalhar com cuidados paliativos passei a refletir um pouco mais sobre a extensão da vida, até onde podemos levá-la, até onde vai, o que é manter a qualidade de vida para aqueles que muitas vezes não quer nada, nada além de ficar quieto, sem ser incomodado, na presença dos seus pensamentos.

Poder assistir o filme da sua própria vida diante dos 'longos poucos dias' que resta, ao máximo! São necessidades tão pessoais. O ser humano é tão único, cada um com os seus conceitos, com sua bagagem, cada um com a sua forma de encarar a vida, as adaptações, o meio e o fim. E fica cada vez mais claro minha função, os meus ideais, que nada mais é do que respeitar as necessidades e as vontades de cada um. Que nem sempre são as minhas, mas me vejo ali como um meio facilitador para que o próximo possa alcançar os seus ideais, finalizar a sua história da maneira mais equilibrada possível. Prover o aquecimento aqueles que estão com frio. E gosto tanto disso, de poder disponibilizar o aconchego, o acolhimento de casa, o calor constante, a presença em tempo integral das pessoas que o ama, que fizeram e dos que faz da sua vida, algumas pessoas da vida inteira.
Trabalhar com cuidados paliativos em domicilio me faz refletir questões humanas já mais imaginadas e me faz uma pessoa melhor a cada dia.

E aprender que devemos ser mesmo intensos no nosso dia-dia, e não deixar nada pra amanhã, escondidinho no canto esquecido. Devemos nos resolver, aproveitar tudo e reclamar menos, muito menos. Aproveitar o sol, o calor, curtir a chuva, o frio. Não nos entregar as crises e os problemas. Enxergá-los como desafios, como um quebra-cabeça, e como tal, montar, apresentar e desenvolver a solução. E com tudo nos tornarmos mais alegres, mais realizados e prósperos.

O que vejo muito acontecer e sempre busco absorver de forma construtiva para minha vida, é resolver os meus problemas o quanto antes, não prolongando e extendendo sofrimento. Sofrimento não é pra ser valorizado, serve como aprendizado. Vejo famílias tentando resolver de última hora problemas tão antigos, casos mal resolvidos, que deixaram mágoas, feridas crônicas, algo que se perpetuava por anos a fio. Somatizando muita coisa ruim, agregando doenças psicossomáticas, estocando o resolvível. É tão triste quando percebo que a ignorância humana chega ao ponto de deixar pessoas que se amam afastadas, isso me entristece. Mas sempre é hora para olhar pra dentro, pedir desculpas, perdoar, facilitar o caminhar, seguir com mais leveza e pra isso basta querer.

E assim viver melhor, elevando as possibilidades do nosso grande potencial e curtir a vida ate o último, com sabedoria e lealdade consigo mesmo.


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